O líder da Renamo recebeu um grupo de jornalistas numa base militar no sopé da serra da Gorongosa, centro de Moçambique, para acabar com especulações sobre o seu paradeiro e insistiu que governará, a partir de Março, seis províncias.
Afonso Dhlakama reapareceu magro na base militar da Renamo de Sadjundjira, na Gorongosa, província Sofala, onde ele afirmou ter chegado em Janeiro, depois de caminhar dois meses e meio desde a cidade da Beira, após o cerco à sua residência, a 9 de Outubro, numa operação policial de alegada entrega de armas em posse do maior partido de oposição
“O objectivo é sem dúvida continuar a lutar pela democracia”, justificou Afonso Dhlakama ao grupo de jornalistas sobre o seu regresso a Sadjundjira, enquanto exibia a esteira, onde afirma dormir todas as noites.
Num tom de reconciliação, Afonso Dhlakama afirmou que o seu regresso às matas da Gorongosa “não é vingança”, mas complemento da luta iniciada em 1977, para “ensinar a África e ao mundo a democracia”, recusando a ideia de reiniciar uma guerra.
“Não vim para pegar a luta e armas”, declarou o líder do principal partido da oposição, acrescentando que não pretende “mostrar capacidade belicista, mas demonstrar a capacidade de um líder, pacifico e ainda com vontade de negociar”.
Comparando-se apenas a Nelson Mandela, antigo Presidente da África do Sul, Afonso Dhlakama disse que está comprometido com o futuro de Moçambique, considerando as estratégias de sua luta como normais e que pode cumprir os seus objectivos a partir da sua base militar, onde garante sentir-se mais seguro.
“Como o [Presidente Filipe] Nyusi dizia, queremos buscar o presidente [Afonso] Dhlakama para vir para uma vida normal. Eu estou na vida normal. A vida normal para o Nyusi é estar no palácio em Maputo, com meia dúzia de pessoas, sem apoio, e eu estou aqui com milhões e milhões”, declarou Afonso Dhlakama, para quem o regresso à Gorongosa é motivo de satisfação para as famílias rurais.
O líder da Renamo reafirmou o seu plano de governar a partir de Março nas seis províncias do centro e norte de Moçambique, onde o partido de oposição reclama vitória nas últimas eleições gerais, e só depois negociar com o Governo.
O aquartelamento militar que acolhe Afonso Dhlakama fica a um escasso quilómetro da sua antiga base, agora controlada por uma posição das Forças Armadas, que em Outubro de 2013 tomaram de assalto a unidade e desalojaram o líder da Renamo.
O presidente da Renamo não era visto em público desde 9 de Outubro, quando a polícia cercou a sua residência na Beira, alegadamente numa operação de recolha de armas, no terceiro incidente grave em menos de um mês envolvendo a comitiva do líder da oposição.
No dia 20 de Janeiro, o secretário-geral da Renamo, Manuel Bissopo, foi baleado por desconhecidos no bairro da Ponta Gea, centro da Beira, província de Sofala, centro de Moçambique e o seu guarda-costas morreu no local, num caso que continua por esclarecer.
Apesar da disponibilidade para negociar manifestada pelo Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, o líder da Renamo diz que só dialogará depois de tomar o poder em seis províncias do norte e centro do país (Tete, Niassa, Zambézia, Nampula, Sofala, Manica), onde o seu movimento reivindica vitória nas eleições gerais de 2014.